quarta-feira, 29 de outubro de 2014



    Canção para um Desencontro

    Deixa-me errar alguma vez,
    porque também sou isso: incerta e dura,
    e ansiosa de não te perder agora que entrevejo
    um horizonte.
    Deixa-me errar e me compreende
    porque se faço mal é por querer-te
    desta maneira tola, e tonta, eternamente
    recomeçando a cada dia como num descobrimento
    dos teus territórios de carne e sonho, dos teus
    desvãos de música ou vôo, teus sótãos e porões
    e dessa escadaria de tua alma.

    Deixa-me errar mas não me soltes
    para que eu não me perca
    deste tênue fio de alegria
    dos sustos do amor que se repetem
    enquanto houver entre nós essa magia.
    Lya Luft


"Belo é tudo que se contempla com amor." 

Christian Morgenstern

quarta-feira, 22 de outubro de 2014



A utilidade é uma coisa muito cansativa .Você ter utilidade prá alguém é uma coisa muito cansativa. Tá certo, realiza humanamente falando, é interessante você saber fazer as coisas. Mas eu acredito que a utilidade é um território muito perigoso.
Porque muitas vezes a gente acha que o outro gosta da gente, mas não, ele só está interessado naquilo que a gente faz por ele. E é por isso que a velhice é esse tempo que, passa a utilidade e aí fica só o seu significado como pessoa. Eu acho que é o momento em que a gente purifica, né?! E o momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade. Porque só nos ama, só vai ficar até o fim, aquele que, depois da nossa utilidade, descobrir o nosso significado.
Por isso eu sempre peço à Deus, sabe?! Sempre faço à Ele a oração de poder envelhecer ao lado das pessoas que me amam, aquelas pessoas que possam me proporcionar a tranquilidade né, de ser inútil, mas ao mesmo tempo sem perder o valor.
Quando viver aquela fase na vida né, ” põe o Padre Fábio no sol, tira o Padre Fábio do sol”, aí eu peço à Deus sempre a graça de ter alguém que me coloque ao sol, mas sobretudo alguém que venha tirar depois.

Alguém que saiba acolher a minha inutilidade, alguém que olhe pra mim assim, que sabe, que possa saber que eu já não sirvo pra muita coisa, mas continuo tendo o meu valor.
Que a vida é assim minha gente, fica esperto, viu!?
Se você quiser saber se o outro te ama de verdade, é só identificar se ele seria capaz de tolerar a sua inutilidade.
Quer saber se você ama alguém? Pergunte a si mesmo. Quem nessa vida já pode ficar inútil pra você, sem que você sinta o desejo de joga-lo fora?
É assim que nós descobrimos o significado do amor.
Só o amor nos dá condições de cuidar do outro até o fim.
Por isso eu digo: Feliz aquele que tem ao final da vida a graça de ser olhado nos olhos e ouvir a fala que diz: Você não serve pra nada, mas eu não sei viver sem você!!
Padre Fábio de Mello


segunda-feira, 20 de outubro de 2014



Uns chamam de azar, outros de urucubaca, outros de mau olhado. 
Eu chamo de estado básico de sobrevivência, pois não gosto de palavras feias ou negativas.
A energia que nos rodeia é vital e as palavras que proferimos têm poder, tanto para o bem, quanto para o mal.

A coragem liberta, mas nem sempre é satisfatório arriscar (seja o que for) por simples vontade. Encontrar um meio termo entre a liberdade e o medo, talvez seja a mola propulsora da vida. 
Penso. Será? 
O fato é que a covardia sufoca irreversivelmente, principalmente os nossos sonhos.

Nisto sim, eu acredito.

| Dulce Miller |

Nós temos a mania de cuidar de feridas da alma como se fossem relicários. Deve ser por isso que custam tanto a cicatrizar. Que é preciso saber viver, a gente já sabe. Mas qual a fórmula certa? Eu gostava tanto das aulas de química na escola... mas tenho tantas dúvidas hoje que certamente tiraria zero em todas as provas. É assim que me sinto agora. Um quase nada. Um fio de luz... E eu tenho muitos sonhos. 

Com uma folha qualquer eu faço um barco de papel e ele navega por alguns minutos na água da chuva... mas quero criar e cultivar sonhos possíveis. E permanentes. E que se tornem reais, principalmente. "Se fosse fácil achar o caminho das pedras, tantas pedras no caminho não seria ruim..." Isto está escrito num bilhete que encontrei hoje entre meus cadernos guardados há muito tempo, nem lembro quem escreveu, mas devia ser importante pra eu ter guardado, enfim... por causa deste bilhete, tomei uma decisão muito importante. Se carmas realmente existem, preciso de uma trégua, pelo menos até o fim dos meus dias. 

Cansei de verdade e cheguei no meu limite, onde nunca imaginei chegar... Freud não explicaria, mas Schopenhauer com certeza me entenderia. 

Não nasci para este mundo, tudo parece ao contrário do que eu sinto. 

É possível? É, eu trocaria tudo outra vez e... sempre!

[ Dulce Miller ]






Alguém aí já sentiu na pele um amor que começa sem paixão?
Quando a gente não conhece uma pessoa, e sim, a reconhece?
Quando acontece uma identificação imediata, uma afinidade sem explicações...
Alguém aí já viveu ou sentiu algo assim, com reciprocidade?

Você encontra alguém da forma mais inusitada possível e sente que aquela pessoa já faz parte da sua vida há muito tempo.
Mas como, se em tese, você mal a conhece?

Você ouve a voz dela e é como um bálsamo para seus ouvidos.
Você ouve a voz dele e não tem vontade de desligar.
Se ele demora para aparecer, você fica preocupada, aflita.
Se ela some, você a procura, sente falta, quer notícias.
Sentem um carinho sem medidas, um amor que pede presença, mesmo que distante.

Estão conectados pela alma, de uma forma como nunca aconteceu antes.

Mas eles sabem que não vieram ao mundo para ficarem juntos.
Eles sabem que não podem, que não devem, que estão em épocas diferentes, separados pelo destino de forma talvez, proposital.

E mesmo tendo essa consciência ainda se amam, de verdade.
Alguém aí entende um amor que começa sem paixão?
A paixão cega, desnorteia, sufoca, oprime e quer posse.
Esse tipo de amor não quer e nem precisa de nada disso.
Ele tem paz, tem serenidade, tem desapego, tem saudade.

Você pensa em algo e ela já está escrevendo, exatamente o que você pensou.
Você pensa nela e ela te chama, no mesmo instante.

Poderiam ser irmãos, amigos ou amantes.
Poderiam, mas o destino não quis.
E neste caso não vale o livre-arbítrio.

Eles se reconheceram na distância e assim permanecerão.
Talvez em outra vida eles possam se encontrar de novo e transformar este amor.

Talvez eles possam até, quem sabe, viver esse amor?

[ Republicando - Dulce Miller 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014


“Quanto a mim tenho que lhes dizer que as estrelas são os olhos de Deus vigiando para que tudo corra bem. Para sempre. E, como se sabe, para sempre não acaba nunca.”

(Clarice Lispector)


Caçador de estrelas. Chorou: seu olhar voltou com tantas! Vem vê-las!"

 (Manuel Bandeira)


"A esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe sua crença. Vão-se os sonhos nas asas de descrença, voltam sonhos nas asas da esperança. "
(Augusto dos Anjos)

"Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente. " (Martha Medeiros)




"Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de 
repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada 
quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é 
mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um 
gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou 
deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a 
ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a 
solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras
mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda 
de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."

(Caio Fernando Abreu - Limite Branco)

"Vai passar,tu sabes que vai passar.Talvez não amanhã,
mas dentro de uma semana, um mês ou dois,quem sabe?
O verão está aí, haverá sol quase todos os dias,e sempre
resta essa coisa chamada¨impulso vital. Pois esse impulso
às vezes cruel,porque não permite que nenhuma dor
insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol,
para o mar, para uma nova estrada qualquer e,de repente,
no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás
pensando algo assim como "estou contente outra vez"..."

Caio Fernando Abreu,
in Ovelha Negra




"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas
ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim,
pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que
não existe, pelo muito que amei e não me amaram,
pelo que tentei ser correto e não foram comigo.
Meu coração sangra com uma dor que não consigo
comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro
todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de
gritar que esta dor é só minha, de pedir que me
deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não
entendermos nada disso. A única magia que existe
é a nossa incompreensão."

Caio Fernando Abreu,
in Ovelha Negra






Como hei-de segurar a minha alma
para que não toque na tua? Como hei-de
elevá-la acima de ti, até outras coisas?
Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção.


Rainer Maria Rilke



Agradeço,  alma fraterna e boa,
O amor que no teu gesto se condensa,
Deixando, ao longe, a festa, o ruído e o repouso
Para dar-me a presença…
Sofres sem reclamar, enquanto exponho
Minhas ideias diminutas
E anoto como é grande o teu carinho,
No sereno sorriso em que me escutas.
Não sei dizer-te a gratidão que guardo
Pelas doces palavras que me dizes,
Amenizando as lutas que carrego
Em meus impulsos infelizes…
Auxilias-me a ver, sem barulho ou reproche,
Dos trilhos para o bem o mais perto e o mais curto,
Sem cobrar pagamentos ou louvores
Pelo valor do tempo que te furto.
Aceitas-me, no todo, como sou,
Nunca me perguntaste de onde vim,
Nem me solicitaste qualquer conta
Da enorme imperfeição que trago em mim!…
Agradeço-te, ainda, o socorro espontâneo
Que me estendes à vida, estrada afora,
Para que as minhas mãos se façam mensageiras
De consolo a quem chora!…
Louvado seja Deus, alma querida e bela,
Pelo conforto de teu braço irmão,
Por tudo o que tens sido em meu caminho,
Por tudo o que me dás ao coração!…



(Francisco Cândido Xavier, por Maria Dolores.
In: Antologia da Espiritualidade)
Ponte do Amor



Há uma ponte nas nossas vidas que nos liga a tudo que queremos.

Banhados de sonhos, fantasias e uma melodia
que somente quem enxerga é os que acreditam.

Interligados a essa energia maior formamos uma corrente universal de luz
e podemos resplandecer e iluminar todos os nossos caminhos
e as vidas que estão ao nosso lado.



Denise Portes