quinta-feira, 9 de outubro de 2014




"Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de 
repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada 
quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é 
mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um 
gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou 
deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a 
ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a 
solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras
mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda 
de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."

(Caio Fernando Abreu - Limite Branco)

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